domingo, 29 de maio de 2011

6.2 O modelo psicossocial do desenvolvimento pessoal de Erik Erikson
Erik Erikson nasceu na Alemanha em 1902 e faleceu com 92 anos nos Estados Unidos. Tornou-se psicanalista após trabalhar com Anna Freud e foi considerado o primeiro psicanalista infantil americano, focando-se nas crises do ego no problema da identidade.
A teoria Eriksoniana foca-se no ego, ao invés de Freud que se focava no id, e é dividida em oito estágios em que o ego sofre uma crise. O desfecho dessa crise pode ser positivo ou negativo. Se for positivo surge um ego forte e estável, se for negativo gera um ego mais fragilizado. Após cada crise do ego ocorre a reformulação e reestruturação da personalidade.
O primeiro estágio ocorre entre o momento em que o bebé nasce até aos seus 18 meses e é quando ocorre a crise entre a confiança vs desconfiança. Quando a mãe falta, o bebé experimenta o sentimento de esperança. Ele começa a esperar que sua mãe volte e, quando isso ocorre com frequência, há o desfecho positivo e a confiança básica é desenvolvida. Caso contrário, se a mãe não retorna ou demora a fazê-lo, o bebé perde a esperança. É o desfecho negativo e o que se desenvolve é desconfiança básica.
Entre os 18 meses e os 3 anos a criança já controla os seus músculos e assim inicia a actividade exploratória do seu meio. É neste momento que os pais surgem para ajudar a limitar essa exploração. Há coisas que a criança não deve fazer, então os pais utilizam meios para ensinar a criança a respeitar certas regras sociais. Esta é crise entre a autonomia vs vergonha e dúvida. O sentimento que se desenvolve nesta etapa é a vontade e se não houver cuidado esta vontade pode passar a impulsividade e compulsão. Neste estágio é importante não exigir demais nem de menos á criança pois isso definirá então se esta se irá tornar autónoma ou insegura.
No período que decorre entre os 3 e os 6 anos a criança depara-se com a iniciativa vs culpa. É neste período que as crianças ampliam seus contactos, fazem mais amigos, aprendem a ler e a escrever, fruto da energia proveniente da iniciativa. Desenvolvem a coragem e a finalidade podendo também desenvolver impiedade e inibição. O senso de responsabilidade também pode ser desenvolvido durante esta terceira crise do ego. Nela, a criança sente a necessidade de realizar tarefas e cumprir papéis. Os pais devem dar oportunidade aos filhos para que eles realizem tarefas condizentes com seu nível motor e intelectual. É necessário que a tarefa seja possível de ser cumprida.

Quando a criança se torna confiante, autónoma e desenvolve a iniciativa para objectivos imediatos, passa à nova fase do desenvolvimento psicossocial onde a criança aprende mais sobre as normas sociais e o que os adultos valorizam. Esta fase dá-se entre os 6 e os 12 anos e é debatida a mestria vs inferioridade. Aqui, as tarefas realizadas de maneira satisfatória remetem à ideia de perseverança, recompensa a longo prazo e competência no trabalho. O ego está sensível, uma vez que se falhas ocorrerem ou se o grau de exigência for alto, ele voltar a níveis anteriores de desenvolvimento, implantando o sentimento de inferioridade na criança.
A adolescência é o período no qual surge a confusão de identidade. Questões como: O que sou?O que serei? Sou igual a meus pais? são levantadas e, somente quando forem respondidas, terá sido superada esta crise do ego.
A partir dos 12 anos até aos 18 é o estágio entre a identidade do ego vs difusão do ego. A lealdade e fidelidade consigo mesmo são características do desfecho positivo desta etapa. Estes sentimentos sinalizam para a estabilização de seus propósitos e para o senso de identidade contínua. Num desfecho negativo despertaram sentimentos como a repudiação e o fanatismo.
Na passagem para um jovem adulto dá-se a crise da intimidade vs isolamento. Se a identidade está estabilizada e o ego fortalecido, o indivíduo agora aprenderá a conviver com outro ego. As uniões, casamentos, surgem nesta fase. Se as crises anteriores não tiveram desfechos positivos, a pessoa tende ao isolamento como forma de preservar seu ego frágil.
Quando adulto o que ocorre é a generatividade vs estagnação e caracteriza-se pela necessidade que o indivíduo tem de gerar. Gerar qualquer coisa que o faça sentir produtor e possuidor de algo. Pode ser filhos, negócios, pesquisas etc. O sentimento oposto que se pode dar é o da estagnação, o conformismo.
A fase final do ciclo psicossocial por Erikson que se dá já numa idade matura é o que se chama a avaliação de todo este processo, será a integridade vs desespero.  Num desfecho positivo o indivíduo procura estruturar seu tempo e utilizar as experiências vividas para viver bem os seus últimos anos de vida. Num desfecho negativo, estagna-se diante do terrível fim e a pessoa entra em desespero.
O ciclo de vida, as crises do ego descritas por Erik Erikson resumem-se a um plano de vida onde o desfecho positivo ajuda na superação da próxima crise e, num desfecho negativo, além de enfraquecer o ego e rebaixá-lo a estágios anteriores de desenvolvimento, prejudicam a superação das crises seguintes.

6. Desenvolvimento pessoal

6.1 Teoria psicanalítica de Freud
O inconsciente freudiano é uma noção tópica e dinâmica. Este mostrou que o psiquismo não é redutível ao consciente e que certos “conteúdo” só se tornam acessíveis à consciência depois de superadas certas resistências.
Define como uma zona do psiquismo constituído por desejo, pulsões, tendências e recordações recalcadas.
Nos primeiros trabalhos sugeria a divisão da mente em duas partes: consciente e inconsciente. Nos trabalhos posteriores, reavaliou essa distinção simples e propôs os conceitos de id, ego, e superego.

Para o fundador da psicanálise, o desenvolvimento da personalidade processa-se numa sequência de estádios psicossexuais que decorrem desde o nascimento ate à adolescência.
A cada estádio corresponde uma determinada zona erógena. Aos diferentes estádios do desenvolvimento correspondem conflitos psicossexuais específicos. Apresentamos, sucintamente, as principais características de cada estádio:
1º - Estádio oral : decorre do nascimento até cerca dos 12/18 meses. A zona erógena é a boca, o bebé obtém prazer ao mamar, ao levar objectos à boca, bem como através de estimulações corporais. O desmame corresponde a um dos primeiros conflitos vividos. O ego forma-se neste estádio.
2º - Estádio anal: decorre dos 12/18 meses aos 2/3 anos, e a zona erógena é a região anal. A criança obtém o prazer pela estimulação do ânus ao reter e expulsar as fezes.  É nesta fase que se faz a educação para a higiene, relativamente à qual a criança ou cede ou se opõe ao cumprimento das regras.
3º - Estádio fálico: decorre dos 3 aos 5/6 anos. A zona erógena é a região genital. Surge a curiosidade sobre as diferenças sexuais. Neste estádio surge o complexo de Édipo que consiste na atracção da criança pelo progenitor do sexo oposto e agressividade para com o progenitor do mesmo sexo.
4º - Estádio de latência: decorre dos 5/6 anos até à puberdade. Este período é caracterizado por uma aparente atenuação da actividade sexual. Seria neste estádio que ocorreria a amnésia infantil: a criança reprime no inconsciente as experiências que a perturbaram no estádio fálico.
5º - Estádio genital: decorre a partir da puberdade e a zona erógena é a região genital. É o último estádio de desenvolvimento da personalidade, em que há uma activação da sexualidade que esteve latente no período anterior. O prazer sexual envolve todo o corpo, integrando todas as zonas erógenas.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

5.2. Ao longo da adolescência
A adolescência significa crescer ou desenvolver-se até à maturidade.
 Munnuss (1971), define a adolescência em termos sociológicos, psicológicos e cronológicos. Ao nível cronológico, é o período da vida humana que vai dos 12 anos até aos 23 anos de idade. Relativamente ao sociológico, é o período de transição em que o individuo passa de um estado de dependência do seu mundo para uma condição de autonomia. Em termos psicológicos, é o período crítico de definição da identidade do “eu”.
A adolescência é o período de grandes sonhos e aspirações, mesmo que não sejam sempre, realistas. De acordo com Piaget, nessa fase de vida a possibilidade é mais importante do que a realidade. Com o amadurecimento normal do ser humano é que ele vai aprendendo a discriminar entre o possível e o desejável.
Nesta fase de vida, as mudanças fisiológicas são muitas, profundas e progressivas em que nas raparigas ocorrem entre os 12 e os 15 anos de idade e nos rapazes entre os 13 e os 16 anos de idade. Os órgãos genitais e todo o organismo se transformam. É na fase da puberdade que ocorre um conjunto de transformações no sistema reprodutor (aparecimento da primeira menstruação nas raparigas e possibilidade de libertação de esperma nos rapazes). No entanto, em ambos os sexos, existe uma falta de coordenação motora resultante do rápido crescimento de certas partes do corpo que torna a criança desajeitada, tímida e receosa de dar má impressão aos que a cercam.
Quando o desenvolvimento destas mudanças características da adolescência não ocorre de maneira normal, podem surgir alguns problemas. No sexo feminino, o aparecimento da primeira menstruação muito cedo e também o desenvolvimento e o tamanho dos seios. No sexo masculino, a maturação tardia é um dos problemas tal como o tamanho do pénis.

5. O desenvolvimento físico

5.1. Ao longo da infância
        Quando nasce, a cabeça do bebe representa ¼ do comprimento total, de 48 a 50 cm. É difícil conseguir-se equilíbrio com uma cabeça deste tamanho; os olhos têm ½ do seu tamanho final e o corpo representa 1/20 da estatura final de um adulto.
        Todas as crianças conseguem sentar-se antes de ficar de pé, ficar de pé antes de andar e desenham um círculo antes de poderem desenhar um quadrado. Todos os bebés passam pela mesma sequência de estágios no desenvolvimento da linguagem. Certas capacidades cognitivas precedem outras, invariavelmente (todas as crianças podem classificar objectos ou colocá-los em serie, antes de poder pensar logicamente ou formular hipóteses.
        No que diz respeito ao desenvolvimento motor, a sequência deste desenvolvimento ocorre de igual forma em quase todas as crianças e cada uma delas passa por cada estádio de desenvolvimento sensivelmente na mesma idade. Importa também salientar que este tipo de desenvolvimento é influenciado pela maturação biológica, que é estimulada pela prática.
        Relativamente ao desenvolvimento sensorial, o paladar parece ser o sentido mais operado à nascença, na medida em que quanto mais doce dor o líquido, mais forte é a sucção e mais líquido o bebé ingere. Alguns bebes, respondem aos sons quase imediatamente, a seguir ao nascimento, quanto os outros apenas após alguns dias. O bebé também é capaz de distinguir a voz da sua mãe, da voz de uma pessoa desconhecida e percebe a sua língua materna. Como curiosidade, a sensibilidade a distinções auditivas poderá ser um indicador precoce de capacidades cognitivas. A visão desenvolve-se mais lentamente. Através do olfacto, o recém-nascido é capaz de localizar a proveniência dos odores, na medida em que os distingue, mostrando-o através da sua expressão.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Dilema Moral
No nosso quotidiano, sempre que algum pedinte na nossa direcção surgem diversas interrogações na nossa cabeça. É inevitável não nos aborrecermos com tanta gente a pedir, a vender, a chorar, a contar as histórias mais tristes e chocantes. Assistir a esse tipo de coisa em qualquer canto da cidade é cansativo, mas ainda assim, é impossível ficar indiferente diante a  todo esse  drama que nos persegue todo dia. Mas o que aconteceu para chegarem a este ponto? É uma das perguntas que pensamos muitas vezes, sem resposta prévia. Afinal, dar esmola resolve alguma coisa?


Pensem na pergunta e publiquem a resposta que o nosso grupo agradece! :)

4. Desenvolvimento moral

Kohlberg - Infância; Pré-convencional e Pós-convencial

A obra de Kohlberg sobre o desenvolvimento moral está considerada como a mais extensa e profunda no enfoque cognitivo-desenvolvimentista.
Na perspectiva piagetiana, os conceitos de heteronomia e de autonomia serviram para caracterizar, fases distintas de pensamento moral. Foi contudo Kohlberg quem, no domínio da psicologia mais tomou e aprofundou esses conceitos.
Na perspectiva de Kohlberg a moralidade é, sobretudo, um “assunto da razão” e o sujeito mais desenvolvido a nível moral é o que “constrói a ideia de princípios éticos prescritivos e universais, e a que regula a sua acção moral em conformidade com esses princípios” (Lourenço, 1992, p. 28). Kohlberg defendeu a existência de estádios em sentido estrito, com características muito semelhantes às dos estádios piagetianos (embora estes sejam em sentido lato).
Deste modo, a partir de entrevistas clínicas tendo por base a apresentação de dilemas morais hipotéticos, Kohlberg identificou três níveis de raciocínio moral de acordo com os diferentes tipos de relação estabelecida entre os sujeitos e as normas ou expectativas da sociedade: o nível pré-convencional, o nível convencional e o nível pós-convencional.
A identificação de três níveis de moralidade, cada um dos quais subdividido em dois estádios, fazendo um total de seis estádios. Isto é, o nível pré-convencional corresponde ao estádio 1 e 2, o nível convencional relaciona-se com os estádios 3 e 4 e o nível pós-convencional refere-se aos estádios 5 e 6.
O nível pré-convencional, o da maioria das crianças com idade inferior a nove anos e de alguns adolescentes e adultos, corresponde em linhas gerais à moralidade heterónoma descrita por Piaget (1932). A justiça e a moralidade são apenas regras externas obedecidas para satisfazer interesses e desejos pragmáticos e individualistas ou para evitar castigos.
O nível pós-convencional, pelas palavras de Kohlberg (1976, p. 26), a perspectiva pós-convencional caracteriza-se por “um indivíduo que assumiu compromissos com os princípios morais em que se deve basear uma sociedade justa e boa”. Com efeito, para Kohlberg, o ponto de vista moral é justamente o ponto de vista do sujeito moralmente autónomo, quer dizer, do sujeito que regula a sua acção por critérios de universalidade e reversibilidade.         
O estádio 1 caracteriza-se por uma orientação moral para a punição e para a obediência.
No estádio 2 a orientação moral dominante é a orientação hedonística e
Instrumental.
O estádio 3 caracteriza-se por uma orientação moral para as relações interpessoais, sendo fundamental nestes sujeitos a sua preocupação com as normas e as convenções sociais. Trata-se da moral idade do “bom menino”, isto é, os sujeitos estão “particularmente interessados na manutenção da confiança interpessoal e na aprovação social” (Colby e Kohlberg, 1987, p. 27).  
No estádio 4 continua a prevalecer a moralidade interpessoal. A orientação moral é agora muito mais geral e instituicional do que recional e afectiva. Trata-se da moralidade da lei e da ordem.
O estádio 5 é um estádio de moralidade pós-convencional. As normas são regras de acção que podem entrar em conflito com os princípios morais. A subordinação das normas aos princípios está patente quando se considera que “devemos obedecer à lei enquanto ela permite que os direitos básicos de alguns indivíduos não sejam violados por outros” (Colby & Kohlberg, 1987, p.29).
Por último, o estádio 6 é também um estádio de moralidade pós-convencional. É, como tal, orientado para princípios éticos universais de justiça, reciprocidade, igualdade e respeito pela dignidade humana. O princípio da justiça deve prevalecer mesmo quando se procura "o maior bem para o maior número".

A inteligência prática

Rey (s/d) citado por Deldime & Vermeulen (1983) estudou, de uma forma experimental, como se comportam as crianças com idades compreendidas ente os 3 e os 7 anos de idade perante um novo problema prático. Exemplo da experiência: no fundo de uma garrafa encontra-se uma rodela de rolha na qual se fixou um parafuso de argola. Ao lado são postos diversos fragmentos de corda, flexíveis e rígidos. A criança é convidada a retirar a peça que se encontra no fundo da garrafa.
Entre os 3 e os 5 anos de idade, a criança não tem, de início, nenhuma ideia da necessidade de organizar um vínculo entre si, o instrumento e a situação presente. O seu primeiro gesto para “alcançar” a rodela é de estender para ela a sua mão e tentar atingi-la directamente (as crianças muito pequenas não viram muito bem a garrafa).
Entre os 4 e os 6 anos de idade, a criança antevê a utilidade que pode ter o material posto à sua disposição. Mas não faz qualquer escolha entre os utensílios: muda-os ao acaso e chega à solução após tentativas.
Entre os 6 e os 7 anos de idade, a criança substitui um instrumento por outro, tendo em consideração a relação existente entre o objectivo a atingir e os instrumentos postos à sua disposição. Um objecto é substituído por outro que se adapte melhor. Pode, eventualmente, assistir-se à descoberta imediata da solução: neste caso, a criança analisou os dados concretos da situação e deles retirou mentalmente os elementos da resposta antes de agir.

As crianças são incapazes de se colocarem no lugar de uma outra pessoa. O único ponto de vista que existe é o delas. As crianças não concebem que qualquer outra pessoa possa ter uma opinião das coisas diferente da opinião delas, por isso considera a sua percepção pessoal e absoluta (Deldime & Vermeulen, 1983).
Este egocentrismo é facilmente reconhecível na linguagem, como se pode verificar através do exemplo: várias crianças sentadas em volta da mesma mesa falam aparentemente em conjunto, mas, quando se escuta as suas conversas, verifica-se que nenhuma delas presta a menor atenção ao que os outros dizem. Falam alternadamente sem se preocuparem em se dirigir a outrem. A seguinte conversa prova-o suficientemente:
Leonor: “O que há para comer esta noite?”
Matilde: “O meu aniversário é dentro de 5 dias.”
Leonor: “Puré ou massa?”
Matilde: “Vou receber muitas prendas”.
 De acordo com Piaget (1989), o pensamento intuitivo surge a partir dos 4 anos, permitindo que a criança resolva determinados problemas: no entanto, este pensamento é irreversível, isto é, a criança está sujeita às configurações preceptivas sem compreender a diferença entre as transformações reais e aparentes. No pré-conceptual domina um pensamento mágico, onde os desejos se tornam realidade: animismo em que a criança vai dar características humanas a seres inanimados e realismo em que a realidade é construída pela criança. Se no animismo ela dá vida às coisas, no realismo dá corpo, isto é, materializa as suas fantasias (exemplo: se a criança sonhou que o lobo está no corredor, pode ter medo de sair do quarto).

No decurso da fase sensório-motora (0 aos 2 anos de idade), a criança não podia utilizar senão os elementos do seu círculo que lhe chegavam através dos seus cinco sentidos. Se, num determinado momento, ela não tivesse oportunidade de ver, ouvir, cheirar, saborear ou tocar um objecto ou uma pessoa, esse objecto ou essa pessoa não tinham existência para ela (Deldime & Vermeulen, 1983).
No fim desta fase, a criança desenvolverá as suas aptidões simbólicas: o biberão é um símbolo visual (chamado “sinal”) de alimentação, ao qual ela respondia com a alegria que sentia na mamada real. Mas a criança não pensa ainda de uma forma realmente simbólica, visto que reage a estímulos concretos e actuais (Deldime & Vermeulen, 1983).
No período sensório-motor, a inteligência estava ligada aos objectos concretos e aos acontecimentos actuais. A partir do momento que ela emprega símbolos para representar objectos, lugares, pessoas ou situações o pensamento da criança ultrapassa o “aqui e agora”: ela pode evocar um objecto ausente, um acontecimento actual a produzir-se algures…
Segundo Deldime & Vermeulen (1983), a representação simbólica diferencia-se da inteligência sensório-motora sobre vários aspectos:
       Ä   A representação simbólica é mais profunda e mais flexível que a inteligência sensório-motora;
       Ä   A representação simbólica não está ligada aos objectos concretos da acção. A criança pode reflectir e reexaminar os seus conhecimentos anteriores;
       Ä   A representação simbólica permite à criança estender as suas considerações a respeito de certas propriedades (quantidade, formas) para lá dela própria, e dos objectos que encontra no dia-a-dia;
      Ä   A representação simbólica está codificada, socializada. A criança traduz os seus pensamentos em formas que podem ser comunicadas a outros indivíduos;
       Ä   O desenvolvimento da representação simbólica encontra a sua origem na imitação.
Em conclusão, a imitação é de todo interiorizada e toma a forma de uma imagem mental, de uma representação simbólica que fornece ao pensamento um ilimitado campo de aplicação por oposição às fronteiras restritas da acção sensório-motora.

3. Desenvolvimento cognitivo

“Cada estádio é definido por diferentes formas de pensamento. A criança deve atravessar cada estádio segundo uma sequência regular, ou seja, os estádios de desenvolvimento cognitivo são sequenciais. Se a criança não for motivada na devida altura, não conseguirá superar o atraso do seu desenvolvimento. Assim, torna-se necessário que, em cada estádio, a criança experiencie e tenha tempo suficiente para interiorizar a experiência antes de prosseguir para o estádio seguinte” (Bringuier, 1978).

       Ä   Estádio sensório-motor (0-18/24 meses)
A actividade cognitiva durante este estádio baseia-se, principalmente, na experiência imediata através dos sentidos em que há interacção com o meio: esta é uma actividade prática. Na ausência de linguagem para designar as experiências e assim recordar os acontecimentos e ideias, as crianças ficam limitadas à experiência imediata e, assim, vêem e sentem o que está acontecer, mas a experiência raramente é significativa. A busca visual é um comportamento sensório-motor e é fundamental para o desenvolvimento mental, pois este tem que ser aprendido antes de um conceito muito importante designado por permanência do objecto. À medida que as crianças começam a evoluir intelectualmente compreendem que, quando um objecto desaparece de vista, continua a existir, embora não o possam ver. A experiência de ver objectos nos primeiros meses de vida e, posteriormente, de ver os mesmos objectos desaparecer e aparecer tem um importante papel no desenvolvimento mental (Piaget, 1989). Assim, pode afirmar-se que a ausência de experiência visual durante o período crítico da aprendizagem sensório-motora impede o desenvolvimento de estruturas mentais.
“Nada substitui a experiência”: é uma boa síntese do período sensório-motor do desenvolvimento cognitivo, pois é a qualidade da experiência durante este primeiro estádio que prepara a criança para passar para o estádio seguinte (Piaget, 1989).
       Ä   Estádio pré-operatório (2 aos 7 anos de idade)
Este estádio, também chamado de pensamento intuitivo, é fundamental para o desenvolvimento da criança. Apesar de ainda não conseguir efectuar operações, a criança já usa a inteligência e o pensamento. Segundo Piaget (1989) este é organizado através do processo de assimilação, acomodação e adaptação. Conclui-se que o pensamento intuitivo, se caracteriza pela concentração da criança sobre a aparência das coisas e pela ausência de raciocínio lógico.
“Esta fase é essencial pois a criança aprende de forma rápida e flexível, inicia-se o pensamento simbólico, em que as ideias dão lugar à experiencia concreta. As crianças conseguem já partilhar socialmente as aprendizagens fruto do desenvolvimento e da sua comunicação” (Piaget & Inhelder, 1984).
Uma criança que nesse período ouça pela primeira vez o barulho do trovão pode pensar que alguém fechou ruidosamente uma porta no quarto vizinho. Assemelha, nesse caso, uma nova experiência a uma estrutura psicológica anterior. Num outro momento, ela pode pensar que o barulho era demasiado intenso para ter sido causado por uma pessoa que estivesse em casa. Neste caso, reajusta todas as ideias sobre os barulhos e a sua origem em função das suas antigas categorias mentais e da nova experiência.
       Ä   Estádio das operações concretas (7 aos 12 anos de idade)
“É a partir deste estádio que as crianças começam a ver o mundo com mais realismo e deixam de confundir o real com a fantasia” (Piaget, 1989).
Apesar de nesta fase a criança conseguir efectuar operações correctamente, precisa de estar em contacto com a realidade, por isso o seu pensamento é descritivo e intuitivo (parte do particular para o geral). É nesta fase que a criança começa a dar grande valor ao grupo de pares (exemplo: começa a gostar de sair com os amigos, adquirindo valores tais como a amizade e partilha).
O pensamento é cada vez mais estruturado devido ao desenvolvimento da linguagem. A criança já tem mais capacidade de estar concentrada e algum tempo interessada em realizar determinada tarefa.
       Ä   Estádio das operações formais (11 aos 16 anos de idade)
É nesta fase que a criança realiza raciocínios abstractos, não recorrendo ao contacto com a realidade. A criança deixa o domínio do concreto para passar às representações abstractas. Aqui a criança desenvolve a sua própria identidade, podendo haver problemas existenciais e dúvidas entre o certo e o errado (Piaget, 1989).
2.2. O desenvolvimento pré-natal
        Em rigor, a vida começa no momento em que as células germinais procedentes dos pais se encontram, quando o esperma fertiliza o óvulo.
        Esta única célula possui toda a herança genética do pai e mãe, mas a sua realização dependerá de factores ambientais e hereditários.

2.3. Período germinal
        Aproximadamente 36 horas após a fecundação, o zigoto entra em uma fase rápida de divisão celular.
        Após estes ¾ dias de divisões celulares, o zigoto desce pela trompa de Falópio ao útero, prendendo-se à parede uterina. A implantação geralmente ocorre no final da primeira semana após fertilização.

2.4. Período embrionário
        Este período vai da segunda ate à oitava semana após a fecundação. Embrião significa “que cresce internamente”.
        Esta fase caracteriza-se por um rápido crescimento e desenvolvimento dos sistemas (exemplo: respiratório). O embrião desenvolve-se a partir de três camadas de células, definidas ao fim do primeiro mês: a ectoderme; a mesoderme e a endoderme.
        Em consequência deste crescimento e desenvolvimento rápidos, este período é muito vulnerável à influência de factores como doenças maternas, uso de medicamentos ou de drogas.

2.5. Período fetal
        Da conclusão das oito semanas ate ao fim da gravidez, “o ser humano que se desenvolve é chamado feto”. O corpo cresce e aperfeiçoa-se e os seus órgãos e sistemas começam a funcionar.
        Nos últimos três meses, o feto pode reagir ao toque e ao som, e formam-se camadas de gordura para o proteger de mudanças na temperatura após o nascimento.
        No último mês, o feto geralmente muda para a posição de cabeça para baixo e então o corpo da mãe prepara-se para o nascimento.

2.1 "Genie - The wild child"

A ver “Genie The Wild Child” reflectimos sobre vários aspectos. O documentário tratava-se da história de uma menina que passou a sua infância fechada no seu quarto. Estudou-se então a criança que durante a primeira parte da sua vida foi criada num ambiente severamente privado e esta tornou-se num caso de teste para uma teoria importante e polémica do desenvolvimento da linguagem, um período determinado biologicamente critico para a aquisição da linguagem. A Genie foi descoberta com 13 anos, e desde os seus 20 meses de idade que a sua vida foi passada amarrada a uma cadeira. Ninguém falava com ela, era alimentada pela sua mãe cega e era punida fisicamente se fizesse algum som.
Quando foi descoberta os psicólogos e linguistas tentaram ensinar-lhe a falar mas embora tenha aprendido a usar muitas palavras e a combina-las em frases simples, ela nunca se tornou proficiente em sintaxe. Ao que parece o factor crucial por trás da sua falta de desenvolvimento da linguagem foi a idade relativamente avançada com que ela aprendeu a língua. Genie foi criada no isolamento extremo e foi privada de qualquer exposição social da linguagem.
Nos cuidados de cientistas ela tornou-se num estudo de um caso extraordinário no desenvolvimento da linguagem que deixa a questão: a linguagem tem um período especificamente definido para ser desenvolvida?

2.Hereditariedade & Meio

2.1 Interacção da hereditariedade – meio
        A hereditariedade é o conjunto de processos biológicos que asseguram que cada ser vivo receba e transmita informações genéticas através da reprodução.
        A hereditariedade pode ser específica quando é responsável pela transmissão de agentes genéticos que determinam a herança de características comuns a uma determinada espécie e pode ser individual quando designa o conjunto de agentes genéticos que actuam sobre os traços e características próprios do indivíduo que o tornam um ser diferente de todos os outros.
        Contudo, o meio social desempenha um papel determinante na construção da personalidade.
1.5. Gestaltismo
Psicologia da Gestalt é uma teoria da psicologia iniciada no final do século XIX  que possibilitou o estudo da percepção.
Segundo a Gestalt, o cérebro é um sistema dinâmico no qual se produz uma interacção entre os elementos, em determinado momento, através de princípios de organização perceptual como:
- proximidade,
- continuidade,
- semelhança,
- segregação,
- preenchimento,
- unidade,
- simplicidade,
- figura/fundo.
Sendo assim o cérebro tem princípios operacionais próprios, com tendências auto-organizacionais dos estímulos recebidos pelos sentidos.
1.4.Watson e o comportamento
“O que nós somos é o que fazemos, e o que fazemos é o que o ambiente nos faz fazer.”
John Watson demarcou-se de psicologia tradicional, que tinha por objecto o estudo da mente, da consciência, através da introspecção. Declarou a necessidade de a psicologia se construir como ciência autónoma e objectiva. Para isso, definiu como objecto de estudo da psicologia o comportamento do Homem e do animal, pois para Watson apenas o comportamento era objectivamente observável.
Considerou que o ser humano é essencialmente produto do meio ambiente, defendendo que os factores hereditários seriam irrelevantes.
Fundou então a corrente Behaviorista que defende que o comportamento depende exclusivamente de uma situação, que este é o conjunto de respostas a um conjunto de estímulos.